terça-feira, 9 de agosto de 2011

Lei do Ódio ao Casamento Gay pode ser aprovada na Câmara

Não sei se é do conhecimento geral,mas existe uma lei tramitando no Congresso que trata exclusivamente da união homossexual. É bem simples, tem duas artigos, e basicamente diz que gays podem se casar, ponto. Esse projeto, o (PL) 580/2007, proposto pelo Clodovil, foi arquivado após a sua morte e desarquivado pela deputada Manuela D'Ávila (PCdoB-RS). Manuela, ao lado de Marta Supliy e Jean Wyllys, é uma de nossas mais fortes aliadas em Brasília.

Pois bem. Acaba de ser apensado (ou seja, grampeado junto, pra tramitar conjuntamente) ao PL-580/2007 o PL-1865/2011, do deputado homofóbico Salvador Zimbaldi (PDT-SP) (que, infelizmente, é de Campinas, terra que pariu também o Bolsonaro - deve ser a água...). O texto desse novo projeto é tão cheio de ódio aos homossexuais que eu me senti na obrigação de publicá-lo na íntegra:

PROJETO DE LEI Nº XXX DE 2011



( Do Senhor Salvador Zimbaldi )


Regulamenta o artigo 226 parágrafo 3º Constituição Federal.




Parágrafo 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a União Estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a Lei facilitar sua conversão em casamento.


O CONGRESSO NACIONAL DECRETA:


Art. 1º - Esta lei dispõe sobre a regulamentação da Entidade Familiar prevista pelo artigo 226, Parágrafo 3º, da Constituição Federal.


Art. 2º - Para efeitos legais será reconhecida a União Civil entre homem e mulher como Entidade Familiar.


Art. 3º - O casamento civil será realizado em Cartório de Registro Civil e somente será aceito entre uma pessoa do sexo masculino e a outra do sexo feminino, levando-se em consideração o sexo determinado no Registro de Nascimento.


Parágrafo 1º - Não serão admitidas, para efeitos de conversão da união estável em casamento civil previstas nesta Lei, situações de pessoas que realizaram troca de sexo por métodos cirúrgicos ou que tenham obtido troca de nome e sexo, ainda que derivadas de decisão judicial.


Parágrafo 2º - As únicas hipóteses em que será admitido casamento civil com troca de nome determinadas judicialmente serão as decorrentes da aplicação do disposto no artigo 58 da Lei nº 6.015/73 e suas alterações posteriores, interessantes às situações de nomes com erro gráfico evidente, vergonhosos ou ridículos, atingimento da maioridade civil ou acrescidos de alcunha ou apelido públicos ou notórios, não sendo admitidos os modificados por troca de sexo ou de nomenclatura que confunda os sexos.


Art. 4º - Em nenhuma hipótese será admitido casamento civil ou reconhecimento de União Civil de pessoas do mesmo sexo.


Parágrafo 1º - Todas as Uniões Civis de pessoas do mesmo sexo registradas em Cartórios de Registro Civil no âmbito nacional, realizados espontaneamente pelo Cartório ou que tenham sido realizadas por determinação judicial, será imediatamente revogado, e cessados os seus efeitos, após a publicação dessa Lei.


Art.5º - O casamento religioso tem efeito civil, conforme art. 226 parágrafo 2º da Constituição Federal nos termos dessa Lei.


Parágrafo 1º - O casamento religioso, obedecidos aos ritos próprios e inerentes a cada orientação de credo e denominação, será realizado sempre entre um homem e uma mulher, ficando proibida qualquer outra união, inclusive a de pessoas do mesmo sexo.


Art. 6º - Fica proibida a adoção de crianças de qualquer idade por união de pessoas do mesmo sexo.


Art. 7º - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, revogadas todas as disposições em contrário, inclusive as Jurisprudências firmadas pelo Poder Judiciário, que porventura possam confrontar o determinado por essa Lei.

Que beleza!! Esse é mais um que vai marchar com orgulho ao lado do Apolinário, dia 18 de dezembro...
 
esse é só um dos projetos que nossos nobres parlamentares se achamno direito de propor. Um texto desse, que pinga ódio pelas beiradas, envergonha aho que TODO cidadão brasileiro. Que Congresso é esse que permite a tramitação de algo assim??? Não existe uma análise sumária, uma tiazinha tipo a Sue Johanson que lê todas as matérias e imediatamente joga no lixo as totalmente idiotas e ofensivas? Deveria, viu!
 
Enfim, fiquemos alertas. Felizmente, como bem lembrado pela revista VEJA, Zimbaldi está jogando pra torcida. esse texto é só pra agradar suas bases. Como o próprio STF já legalizou as uniões homoafetivas, só uma PEC, uma emenda à Constituição nos tira esse direito. Aleluia!!
 
Que fique registrado aqui, então, o texto, como referência do ódio que sentem por nós aqueles que nos atacam. Não sei você, mas eu li uma vontade louca de nos exterminar, de nos aniquilar por completo, em cada linha... O tempora...!

Não tenho como não fazer referência, novamente, ao post anterior...

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Os Héteros estão na pior?

Nos últimos dias, a blogosfera (e a facebookosfera) tem estado em polvorosa por causa da aprovação, pela Câmara de Vereadores de São Paulo, do Dia do Orgulho Hétero.

Afora a óbvia indignação geral, alguns blogueiros, como o Vitor Ângelo, da FOLHA, começaram a se perguntar... Os Héteros estão tão na pior assim, a ponto de precisarem chamar atenção para si mesmos? Será que que eles realmente temem que sem a aniquilação completa da diversidade, o projeto de procriação contínua da humanidade estaria comprometido?

Outro dia eu li que o famoso Dr. Kinsey, autor de "Sexual Behaviour of the Human Male" - estudo que tem fundamentado tudo o que se diz sobre sexualidade masculina desde meados do século passado - afirmou em seu livro que o motivo pelo qual homofóbicos se opõe a homossexualidade é bem simples: o medo do crescimento da atividade homossexual. Conclui o Dr. Kinsey que com menos homofobia haveria muito mais homossexualidade. Ao se remover a pressão social que reprime a atração pelo mesmo sexo, o desejo homossexual cresceria e se espalharia naturalmente em larga escala.

Por outro lado, a heterossexualidade parece estar em baixa: os vultosos recursos investidos pela sociedade e a mídia na promoção da heterossexualidade (vide comerciais de cervejas e carros - e agora esse Dia do Orgulho HT...) só pode levar a crer que a heterossexualidade é uma orientação pouco atrativa, e que a população tem que ser constantemente bombardeada com os valores heterossexuais para poder se manter nesse rumo...

Será o fim dos héteros?

Interessante esse ponto de vista. Segundo o Dr. Kinsey, o ser humano só procria por obrigação, não por gosto. A sociedade tem que ser constantemente forçada a copular com pessoas do sexo oposto - daí o interesse hegemônico em sufocar a homossexualidade. Faz todo sentido!! É muuuuuuito mais legal ser gay do que ser hétero! ESSE é o grande segredo que tentam esconder a todo custo. 

Para o bem de todos e felicidade geral da Nação, é preciso que todos continuem pensando que ser gay é errado, é pecado, é vergonhoso. Que os gays se matem e sejam assassinados, para que a massa copule e popule o mundo de pequenos novos consumidoreszinhos...  

Tadinho dos héteros.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Toni Reis: "Unidade na ação para diminuir a homofobia"

Publico esse artigo extremamente lúcido do Toni Reis, presidente da ABGLT. Assino embaixo, claro. ~ Deco


Toni Reis*

Algumas pessoas se dizem descontentes com o trabalho do movimento LGBT. Porém, geralmente essas pessoas que ficam reclamando fazem pouco ou nada para melhorar a situação. Ou são autonomistas que não têm base social, ou não participam de reuniões periódicas de base. Essas pessoas geralmente não conhecem a realidade em que milhões de LGBT estão inseridos, algumas nunca atenderam o apelo desesperado de uma vitima da homofobia.

É importante lembrar para as pessoas que fazem criticas construtivas, que elas não se encaixam nas observações anteriores.

É necessário ter planejamento para atingir nossos sonhos. Você tem planos e idéias para melhorar a situação LGBT no Brasil?

Você tem um site que ajuda a construir o movimento? Ou você só quer detonar o que está sendo feito? Você já escreveu para Bolsonaro, Miriam Rios, Du Loren ou Malafaia protestando, ou fica esperando que os(as) outros(as) façam o que você poderia fazer? Você já protestou contra um vereador da sua cidade, ou um deputado do seu estado? Já parabenizou parlamentares aliados, ou prefere dizer que eles poderiam fazer melhor? Quantas cartas abertas você já escreveu? Quando uma organização LGBT pediu a sua opinião ou colaboração, você contribuiu ou só ficou falando depois como as coisas deveriam ter sido feitas. Quando convidaram para organizar a Parada LGBT em sua cidade, você ajudou ou simplesmente saiu falando que é um carnaval fora de época?

Você já aceitou assumir um cargo em uma organização LGBT? Ou recusou alegando falta de tempo e depois saiu criticando com afirmações do tipo: “essa turma quer é ficar sempre nos cargos"? Quando as pessoas estiverem trabalhando com boa vontade e com interesse para que tudo corra bem, há quem afirma que a entidade está dominada por um grupinho. Você já fez isto? Também há quem não lê o que é postado nas listas de e-mail e depois fica reclamando que nunca é informado de nada. Você já fez isto?

Quando há divergências com uma pessoa da diretoria ou da entidade, você procura com toda intensidade vingar-se na organização e nas listas de discussão e boicotar seus trabalhos, inclusive colocando as outras entidades congêneres contra?

E quando cessarem as publicações, os projetos, as reuniões e todas as demais atividades, enfim, quando nossa entidade morrer, você é daqueles que estufa o peito e afirma com orgulho: ‘’Eu não disse?’’?

Às pessoas que ficam reclamando, sugiro a leitura do texto abaixo, baseado em artigo sobre as obras de Erika Andersen e publicado no site Olhar digital;

Dica um: Tenha objetivos razoáveis na militância.
O (a) Ativista precisa entender exatamente o que o(a) inspira e qual o trabalho que pode dar mais prazer no futuro para definir um trabalho social e ideal. E precisa ser realista em seus objetivos: se sua ambição é criminalizar a homofobia, você pelo menos tem que falar com os(as) congressistas senadores(as), deputados (as). Com quantos(as) você já conversou sobre o assunto? Vai depender deles os votos.

Pense no trabalho baseado nos conhecimentos que já possui, experiências e interesses, além de, obviamente, descobrir ser tem os recursos necessários para trabalhar na área desejada. Busque apoio nas boates, saunas e sites LGBT. Eles(as) podem ajudar muito.

Foque no que você gostaria realmente de fazer e que acha ser possível. Aconselho que o(a) militante escreva suas principais conclusões e, a partir daí, trace um plano de ação para atingir seus objetivos, em determinado tempo. Se seu objetivo vai depender de formar uma ONG ou ganhar muito mais experiência profissional, pense em algo de longo prazo. Já se você quiser fazer um simples avanço em que está sendo feito, junte-se a quem está trabalhando É muito difícil trabalhar em grupo, mas, no final é gratificante. Temos hoje nove redes nacionais LGBT no país e 302 ONG registradas, e 35 fóruns informais, e mais 167 listas LGBT e muitas comunidades no Face book e Orkut e outras redes sociais.

Dica dois: Seja honesto sobre os obstáculos
Infelizmente tem homofobia para todo mundo trabalhar.

Depois de ter uma clara ideia de que gostaria de conseguir e quanto tempo vai ser necessário para atingir o trabalho dos sonhos, se prepare para as barreiras que podem surgir no caminho. Eu sugiro que você enxergue os obstáculos na política, nos recursos e nas pessoas.

Entre os exemplos de situações que precisam ser analisadas, destaco que o(a) ativista deve enxergar se a cidade o estado em que mora tem espaço para o trabalho que quer fazer, se está disposto a abrir mão de parte do salário atual para entrar em uma nova área; se vai ter dificuldade para aprender novas coisas que serão fundamentais na área que pretende seguir, entre outros. Lutar pelo coletivo, é só receber críticas, geralmente. O que você fizer receberá 97% de criticas e 3% de reconhecimento.

Dica três: Organize o plano de ação e vá à luta
Após entender exatamente o que quer fazer e quais os obstáculos vai enfrentar pela frente, o(a) ativista deve detalhar todos os esforços que serão necessários, na ordem correta, para atingir os objetivos.

Por exemplo, se você descobre que precisa buscar conhecimentos adicionais para atingir a cidadania dos sonhos, deve traçar um plano de ação específico para isso, em ordem cronológica. Como exemplo: 1) falar com as pessoas no movimento LGBT para entender o que elas pensam que é mais importante em termos de conhecimento e formação; 2) pesquisar os cursos e encontros específicos; 3) definir quais são as opções razoáveis em termos de tempo e dinheiro; 4) determinar a melhor opção.

Concluir a decisão de definir os rumos da própria atuação como ativista serve como um estímulo para qualquer militante. “Minha experiência é que muitas coisas boas se seguem a isso: mais energia, aumento da autoconfiança, moral elevada e uma excelente sensação de sucesso”.

Estamos firmes na luta pela cidadania plena LGBT.

*Toni Reis
Presidente da ABGLT