GRUPO E-JOVEM
de Adolescentes Gays, Lésbicas e Aliados
Nota Oficial do GRUPO E-JOVEM
Foi com muita consternação que o GRUPO E-JOVEM de Adolescentes Gays, Lésbicas e Aliados recebeu as notícias, recentemente veiculadas pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, e pelo jornal Folha de S.Paulo, acerca de um grupo de travestis adolescentes de Belém (PA) que estavam sendo sexualmente exploradas em São Paulo (SP).
É notório que o destino de travestis jovens expatriadas geralmente seja cair na mão de cafetinas inescrupulosas, que as mantêm em estado de escravidão. Essa rede ‘descoberta’ em SP não é a única. São milhares de travestis vivendo dessa forma, em todos os grandes centros do país.
Ainda que seja louvável a preocupação com as adolescentes, a maioria entre 14 e 17 anos e que foram encaminhadas de volta às suas famílias, o simples ‘repatriamento’ dessas meninas trans não é a solução. Como mostra a reportagem “Sonhos de Belém”, publicada na Folha em 7/02/2011, muitas não possuem vínculos familiares e as que possuem com certeza enfrentam rejeição devido às suas orientações sexuais e identidades de gênero. Traduzindo: suas famílias não as aceitam como travestis, não apoiam as mudanças em seus corpos e, geralmente de forma violenta, contribuem para o rompimento do vínculo familiar.
Sim, elas vão voltar para São Paulo. E mais virão. Elas querem ir ao shopping montadas e serem bem atendidas pelo SUS. E elas têm esse direito, de buscar a felicidade, seja em Belém ou em São Paulo.
Como a única rede nacional integralmente dedicada ao movimento jovem LGBT, EXIGIMOS que o Estado ofereça as garantias necessárias de Saúde, Segurança e Assistência Social para que essas adolescentes não precisem fugir de suas realidades para terem seus direitos garantidos. É preciso ensinar essas famílias a conviver com a diversidade e a reconhecer suas filhas.
E, caso elas queiram realmente ir para São Paulo ou qualquer outro lugar, é preciso garantir que sejam bem recebidas e tenham seus direitos garantidos lá também – como cidadãos e cidadãs brasileiras que são, sem que a solução seja simplisticamente devolvê-las a famílias que as violentam.
O GRUPO E-JOVEM, através de seus núcleos em Belém e São Paulo, acompanhará de perto esse caso, dará apoio à esas meninas e buscará diligentemente tais garantias das autoridades competentes.
Esperamos que o Centro de Referência, Prevenção e Combate a Homofobia da Defensoria Pública do Estado do Pará, o Centro de Referência da Diversidade da cidade de São Paulo e a Coordenação de Políticas para a Diversidade Sexual do Estado de São Paulo sejam sensíveis a essas demandas. E aos desejos de Pamelas, Daianys, Natashas, Jessicas, Michellys e Samanthas.
Atenciosamente,
Chesller Moreira/Lohren Beauty, presidente nacional do Grupo E-jovem
grupo@e-jovem.com; (19) 9341-3764
Wander Júnior, presidente do Grupo E-jovem em São Paulo
wanderjunior.bs@hotmail.com
Daniel Prestes, presidente do Grupo E-jovem em Belém
e.belem@hotmail.com
Campinas, 7 de fevereiro de 2011
Sonhos de Belém
Sete travestis adolescentes do Pará que se prostituíam na capital paulista são resgatados pela polícia, mas já dizem que vão voltar a SP
ELIANE TRINDADE
DE SÃO PAULO
Eles têm entre 14 e 17 anos, nasceram em Belém (PA) e chegaram a São Paulo com documentos falsos e duas certezas: a de que iriam ganhar a vida como travestis e juntar dinheiro para fazer implante de silicone nos seios.
O sonho dos sete garotos foi interrompido por uma ação policial na última quarta-feira. "Eu tava tomando banho, o policial bateu na porta, eu abri e ele foi logo dando porrada na minha cabeça", conta Pamela, 17.
Em São Paulo desde agosto, ela foi descoberta, com as outras seis colegas, numa casa no Cambuci, onde pagavam uma diária de R$ 30 para dormir e comer. Os nomes são fictícios.
Cinco dos travestis adolescentes já voltaram para Belém no sábado, depois de serem ouvidos pelo Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas do Estado. "As autoridades paraenses foram acionadas para recebê-las e encaminhá-las de volta às famílias", afirma a secretária de Justiça de São Paulo, Eloisa de Sousa Arruda.
Duas delas estão ameaçadas de morte. É o caso de Daiany, 14, cuja família denunciou o esquema de exploração sexual que resultou na prisão de 80 travestis.
"Se ela voltar para Belém ou ficar vão acabar com ela", diz Pamela, sobre a amiga que está em SP há 15 dias.
A capital era uma descoberta. "Aqui a gente pode andar de ônibus e ir ao shopping sem ser xingada", diz Daiany. Mas também convivia com o espectro da violência. "Nunca se sabe se o cliente é psicopata ou se vai dar o cano." Já levou porrada e calote. Diz se defender com o salto das sandálias altíssimas sobre as quais oferecia seu corpo delicado na avenida Indianópolis.
MEIA-NOITE?
Todos os dias, o grupo de novatas fazia tudo sempre igual. "A gente tinha que sair de casa até as 20h e só podia voltar a partir das 5h", relata Natasha, rosto infantil bem maquiado, voz anasalada.
Por volta das 13h, a turma era acordada pela cozinheira para o almoço. "Dormia o dia inteiro. É muito cansativo", diz Jessica, 15. E lucrativo. "Quanto mais nova e magrinha, melhor", afirma Michelly", 15. O preço por programa varia de R$ 80 (no carro) a R$ 120 (no hotel). "Em uma noite boa, dava para voltar com R$ 400 no bolso."
Sem vínculos familiares, todas declararam que vão voltar. "É só o tempo de chegar a Belém, arrumar os R$ 300 da passagem de ônibus e encarar dois dias de viagem", diz Samantha, 17.
Em São Paulo desde novembro, ela foi submetida a uma cirurgia para mudança de sexo. Diz que mentiu a idade e fez a operação pelo SUS. "Ainda dói", conta ela, que toma hormônio feminino desde os nove anos.
A promotora Eliana Vendramini acompanha os casos e diz que é preciso refletir sobre as vidas destes adolescentes. "As famílias, a sociedade e o próprio Estado precisam aprender a lidar com a diversidade sexual", diz.
GRUPO E-JOVEM de Adolescentes Gays, Lésbicas e Aliados
www.e-jovem.com – grupo@e-jovem.com
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Tel.: (19) 3307-3764 / 9341-3764
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