quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Campinas vai ter uma escola gay

E fomos CAPA de todos os jornais de Campinas hoje! Abaixo, matéria do maior deles, o Correio Popular. Quem quiser mandar cartas pro jornal, pode escrever para leitor@rac.com.br - sinto que vamos precisar de apoio! Conhecendo Campinas, amanhã vai estar uma loucuuura aquela seção de cartas...! =D



Publicada em 23/12/2009

Cidades
Campinas vai ter uma escola gay

Recursos públicos financiam projeto cultural que tem como objetivo o combate ao preconceito

Fábio Gallacci
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
gallacci@rac.com.br

Campinas poderá sediar no próximo ano a primeira escola do Brasil totalmente voltada para o universo gay. Com uma verba de R$ 180 mil proveniente de um convênio entre a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo e o Ministério da Cultura, o Grupo E-jovem de Adolescentes Gays, Lésbicas e Aliados, que tem sede na cidade, pretende concretizar o projeto de implantação da Escola Jovem LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais).

Inicialmente com três turmas — com 20 alunos cada — o objetivo da instituição, de acordo com Deco Ribeiro, representante do grupo e futuro diretor da instituição, é valorizar e difundir a Cultura LGBT em cursos que serão abertos a jovens homossexuais, mas também a heterossexuais e bissexuais.

Já no mês de janeiro começa a seleção para a escolha dos professores. Os interessados em fazer a matrícula podem entrar em contato pelo e-mail escola@e-jovem.com. Se todas as questões burocráticas e estruturais estiverem em ordem, as aulas deverão começar em março. Os cursos serão gratuitos.

“Queremos que toda a juventude tenha contato com o universo gay e, assim, possa conhecer e respeitar as pessoas que fazem parte dele. A escola não é só para gays, mas pretende dar visibilidade para essa parcela da sociedade. Também queremos que os jovens gays se valorizem mais”, justifica Ribeiro, que já está preparado para reações contrárias. “Se não formos incomodados vou ficar decepcionado. Eu espero que essas reações contrárias surjam. Já andei recebendo e-mails relacionados a isso. Preconceito é ignorância. Para vencer isso, precisamos levar nossa arte, nossa expressão e nosso discurso a quem não nos conhece”, acrescenta o representante do Grupo E-jovem.

As aulas terão foco em atividades artísticas, literárias e em diversas outras vertentes culturais. Entre elas, a criação de zines, revistas, produtos literários, dança, música, TV, cinema e teatro. Até mesmo performance drag está prevista para entrar na grade curricular.

Ainda de acordo com Ribeiro, o material produzido ao longo dos cursos circulará pelo Estado e terá distribuição gratuita.

Até o momento, não há um local definido para sediar a escola na cidade. Já se fala que o Museu da Imagem e do Som (MIS) de Campinas, localizado no Palácio dos Azulejos, no Centro, pode ceder algumas salas. Mas trata-se de uma possibilidade que ainda está sendo negociada por Ribeiro.

O Estado conta com 300 projetos de difusão cultural que serão financiados pelo convênio entre o governo estadual e a União. Todos juntos vão R$ 54 milhões. Cada um deles receberá R$ 180 mil e vai se tornar um “Ponto de Cultura”: o espaço aberto a toda a coletividade, segundo Deco, é uma estratégica contra a homofobia.

Proposta divide opiniões antes de sair do papel
Para alguns campineiros, estratégia só aumenta isolamento das minorias

A ideia de criar uma escola com a temática totalmente voltada para o universo gay nem saiu do papel e já gera polêmica na cidade. O representante comercial Alcino Camargo não gostou da proposta, mas respeita as diferentes opiniões. “O assunto é polêmico. Eu sou contra, mas cada um tem o livre arbítrio”, diz. A posição é seguida pelo industriário Marcelo Magri. “Isso é dividir a sociedade, é uma forma de isolamento dos jovens”, afirma.

A atendente Karla Bonissoni se preocupa com a possível intolerância de alguns setores. “Bacana a proposta, mas vai haver muita discriminação. O jovem pode ficar mais seguro de sua sexualidade, mas, mesmo assim, haverá o preconceito da sociedade. Acho que a divisão entre heterossexuais e homossexuais será uma forma de preconceito um contra o outro”, avalia. “Se meu filho fosse homossexual, como mãe, eu não o matricularia nessa escola”, diz.

Os posicionamentos favoráveis também existem. “Acho que não atrapalha o desenvolvimento dos jovens como pessoas, até favorece, já que eles poderão ser aceitos em um ambiente sem preconceitos”, aponta a educadora Celina Thiago. “É uma boa ideia, acho que não haverá preconceito contra a escola”, acredita o desempregado Rodolfo Pavan. (AAN)

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