Está faltando homem no movimento...
Não sei você, mas eu estou achando que o Movimento Gay aqui no Brasil é meio esquizofrênico.
Já reparou que existe Dia da Visibilidade Travesti, da Visibilidade Lésbica, da Celebração Bissexual - e nenhum dia gay? "Ah, tem o Dia do Orgulho Gay", certo? Errado. O Dia do Orgulho Gay virou Dia do Orgulho LGBT, pra incluir todo mundo... e os gays foram varridos do mapa. Ou do calendário, pelo menos.
Na verdade, é exatamente aí, nessa mudança de Orgulho Gay pra Orgulho LGBT que tudo começa. No início era tudo gay. O termo Movimento Gay dava conta de todo a luta contra a homofobia, fossem ações voltadas aos direitos de lésbicas ou pelo respeito das transexuais.
Mas aí as lésbicas começaram a se achar invisibilizadas pelo termo gay. "Gays são os homens," argumentavam. "Somos lésbicas!" O movimento passou a ser de Gays e Lésbicas, depois GLT e GLBT. Foi quando travestis e transexuais descobriram que têm pautas distintas - e surgiu o GLBTT. Aí começou a onde de trazer pra frente as letras mais vulneráveis, ou que mereciam mais visibilidade. GLBTT virou GLTTB, depois GLTTTB (com a adição das transgêneros) e, finalmente, LGBT, unindo todos os Ts num só e trazendo o L pra frente, numa deferância às mulheres. Esta sigla foi votada e aprovada na I Conferência Nacional (não sem muito choro e ranger de dentes).
Mas beleza, passou. Hoje o Movimento é LGBT. E, ao longo de toda essa discussão, que durou anos e anos, nós gays ouvíamos que que queríamos nos meter em tudo, que dominávamos o movimento e não dávamos espaço pras mulheres, L, B ou T.
E, com receio de sermos tachados de machistas, fomos abrindo mão da identidade gay.
Assim, todas as letrinhas lutaram e conquistaram o direito de celebrar e dar visibilidade à sua identidade - menos os gays. Nos escondemos atrás da sigla LGBT e pronto. O resultado? Não há dia gay.
E mais: até pouco tempo não havia nem uma rede nacional só de gays (enquanto há de LGBT, de travestis, de transexuais, de bissexuais, de jovens LGBT, de negros LGBT... e DUAS de lésbicas!) e a que existe hoje ainda está se organizando... Tanto é que, na recente composição para o Conselho Nacional LGBT, todas essas redes citadas acima conquistaram assentos - menos a rede dos gays, por falta de documentação. E olha que curioso: a rede LGBT vai mandar 1 masculino (gay) e 2 femininas (lés e travesti), a de travestis e trans vai mandar 2 femininas, a de jovens vai mandar 1 feminina (nossa Lohren Beauty), as de lésbicas vão mandar 1 feminina cada... E cadê os gays?
Fica parecendo que nós, gays, não temos problemas específicos, só de gays. Mas temos. E precisamos de espaço para melhor discuti-los.
Mas isso vai ser outro post.
4 comentários:
Faz um tempo que tenho pensado nisso também, Deco.
Compartilho de sua incomodação.
Abraços
Deco, gosto de seu jeito de dizer as coisas..e tb gosto da sigla GLS , pois me inclue rsrs afinal sou hétero mas totalmente incluida..
sou gay de alma ..beijos
boa sorte a seus escritos
Oi gente, a Lala é a minha irmã..e como ela entrou no meu google saiu em nome dela, mas o comentario ao lado é meu Ana Fadigas
cruzes ela invadiu a minha tela.rsrsr
DECO, DECO... Não é por acaso que você é o DECO.
Esse assunto é tão complexo, que me sinto inseguro para arriscar comentário.
O problema do déficit de gays na militância é de origem comportamental e social, está alem do problema da representatividade, inclusive, podemos interligar com o problema do homossexual e sua imagem, também, com o consumismo, reflexo da mentalidade capitalista.
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