quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O Novo Adolescente Gay

 
O texto abaixo é uma versão resumida do meu Trabalho de Conclusão do Curso de Jornalismo, da Facamp. Essa foi a base sobre a qual foi levantada toda a ideia da Escola Jovem LGBT. Espero que curtam!

O Novo Adolescente Gay

por Deco Ribeiro



César, o caçula de dois irmãos, se lembra que aos 12 anos de idade amarrava fitinhas de Nosso Senhor do Bonfim no pulso pedindo para deixar de ser gay. Mas ele sempre cortava a fitinha antes do tempo e cancelava o pedido. Seu amigo Alan comenta que aos nove anos começaram a surgir os xingamentos preconceituosos na escola – “bicha”, “viadinho” -, mas assume que nem sabia o que significavam. E não identificava os seus sentimentos com qualquer desses nomes. Para a menina Aira o problema era gostar de jogar futebol: às vezes chegava roxa em casa, depois de brigar com os garotos que implicavam por ela ser a única menina entre eles.

As situações que César, Alan e Aira descrevem podem parecer familiares a muitos outros homossexuais. E, para muita gente, seriam motivos mais que suficientes para que eles reprimissem sua sexualidade e passassem a viver no armário, certo?

Errado. Pois os três ainda nem estão na faculdade mas já sabem o que vão ser quando crescer: gays e lésbicas. E não sentem necessidade de sofrer por causa disso.

Quando perguntados se já ficaram com pessoas do sexo oposto, todos respondem que sim, mas porque “achava que tinha de ficar”, “era o que todo mundo fazia”, “ficou por ficar só pra ver como era”, “foi pressionada” ou “era o que deveria ser”. E mesmo esse tipo de comportamento não passou dos 15 anos. A partir do momento em que esses jovens entraram definitivamente na adolescência, a atração por pessoas do mesmo sexo falou mais alto – a diferença é que eles escolheram viver isso plenamente.

A Nova Onda
E não estão sozinhos. Jovens em todo o mundo estão assumindo sua homossexualidade muito mais cedo que há uma geração atrás. Isso foi identificado no ano passado nos Estados Unidos pelo pesquisador Ritch Savin-Williams, autor do livro “The New Gay Teenager”. Segundo ele, garotos já estão se dando conta de que são gays aos 12 anos e tendo seu primeiro contato sexual com alguém do mesmo sexo entre 14 e 16 anos – exatamente como seus colegas héteros. A novidade é que muitos estão se assumindo antes mesmo de completar o ensino médio.

No Brasil, existe muito poucas pesquisas sobre esse assunto. Mas para o sexólogo Cláudio Picazio, acostumado a lidar com adolescentes em seu consultório e a dar palestras em escolas sobre sexualidade, é visível que o adolescente está redescobrindo a homossexualidade. “Na pré-adolescência a criança fica confusa. Porque percebe uma atração, sente sensações boas, com ambos os sexos, ou até mais voltado a um deles, mas teme aquilo que começa a sentir. É na adolescência mesmo, quando o corpo fica pronto, que não dá mais pra segurar o desejo.”

Por que essa confusão inicial? Para o psicólogo, isso se dá graças ao papel da sociedade. “Há uma desconstrução da homossexualidade,” diz Picazio. “Se o adolescente é afeminado, dizem que ele é homossexual. E ele já é discriminado por causa disso.”

E essa discriminação começa cada vez mais cedo.

Má Educação
Segundo relatório de 2004 da UNESCO, órgão das Nações Unidas responsável pela educação, publicado no livro “Juventudes e Sexualidade”, é preocupante o nível de homofobia nas escolas brasileiras. Foi verificado que de cada quatro alunos, um não gostaria de ter homossexuais como colegas de classe. Minoria, mas uma minoria barulhenta – o método mais comum de violências contra homossexuais nas escolas é a ofensa verbal, o xingamento, sempre com o intuito de “humilhar, discriminar, ofender, ignorar, isolar, tiranizar e ameaçar”.

Mediando esse conflito, estão, na linha de frente, os professores. Mais atrás, orientadores pedagógicos, coordenadores e diretores. A posição destes em relação à homossexualidade em sala de aula foi documentada pela UNESCO como sendo mais liberal que a dos alunos – de cada 100 professores, apenas 2 indicam que não gostariam de ter homossexuais como alunos.

No entanto, a pesquisa aponta que ao mesmo tempo em que isto é reconhecido, há uma tentativa de banalizar tal fato. Ou pela dificuldade em lidar com o assunto, ou fingindo que nada acontece – e, assim, pelo silêncio, compactuando com a violência. Isso, claro, quando não são os próprios professores os agentes da agressão, fazendo piadinhas com homossexuais em sala de aula, por exemplo.

Esse preconceito por parte dos educadores é revelado quando perguntados se acham que homossexualidade é uma doença. De um mesmo grupo de 100 professores, 10 respondem afirmativamente. Isso mostra que a tolerância por parte de alguns professores com relação aos alunos gays e lésbicas é um tanto abstrata. Enquanto alguns jogam a culpa nas próprias vítimas, que “tenderiam a se isolar” – em oposição a serem isolados pelos colegas – outros chegam a censurar o aluno homossexual, dizendo que ele não deve “deixar transparecer” que é gay.

Em vista disso, é realmente de se espantar que os jovens estejam tendo coragem de se asumir cada vez mais cedo.

Aliados Héteros
Marcos, um ator de teatro de 20 anos, não pensa duas vezes ao dar uma explicação para essa coragem. “Não é que ser gay seja fácil. Só é mais fácil que antigamente, porque hoje em dia existem muitos héteros com a cabeça mais aberta para a homossexualidade.” Sua amiga Maiara é uma delas. “Eu acho os gays maravilhosos, são as melhores pessoas pra se ter como amigos,” diz ela, heterossexual e simpatizante assumida, “O que incomoda é a crítica das pessoas que têm preconceito, que te rotulam só porque você anda com um amigo gay. Mas é porque elas não os conhecem.” Para os dois amigos, o fato das pessoas estarem convivendo mais com a diversidade sexual vai, aos poucos, abrindo caminho para essa maior aceitação.

E essa convivência se dá em diversas áreas. Adolescentes gays desse início de século aprenderam a escrever em e-mails, conversam por videofone no computador e estão acostumados às dezenas de canais das TVs a cabo. Eles se descobrem gays lado a lado das personagens lésbicas Clara e Rafaela, da novela Mulheres Apaixonadas, de Jenifer e Eleonora, de Senhora do Destino, ou do Júnior, de América. Assistindo a homossexualidade retratada em seriados populares como The O.C., Will and Grace e Queer Eye for the Straight Guy. Isso para não mencionar os altamente gays Queer As Folk (traduzido no Brasil como Os Assumidos) e o lésbico The L Word. No cinema, temos personagens gays simpáticos (que não são caricaturas humorísticas ou meros figurantes) desde Priscila, A Rainha do Deserto até Alexandre, o Grande – com direito até a um dramalhão nos moldes tradicionais, com Brokeback Mountain. Personagens gays aparecem em video games, nos quadrinhos, nos jornais.

“Antes, os únicos gays que tinham evidência eram os mais afeminados,” diz Marcos. “Agora, parece que até aqueles que não se ‘entregam’ naturalmente estão escolhendo se assumir, pois sentem o ambiente mais tranquilo.” Com voz grossa e sem trejeitos, ele mesmo não se encaixa no estereótipo padrão de homossexual. Algumas pessoas, como seus irmãos, tiveram de se esforçar para acreditar que ele pudesse ser gay.

Jovens Comuns
Os jovens gays de hoje não têm dúvidas: ser gay é sentir atração por alguém do mesmo sexo, mas, mais que isso, um desejo de ficar junto, embaixo do edredom, comendo pipoca e vendo filme de terror, de namorar, casar e ter filhos com alguém do mesmo sexo. Uma coisa que revolta a ambos é todo mundo achar que homossexualidade tem a ver só com o ato sexual, só com sacanagem. Nada a ver. Eles lembram de quando ainda eram virgens e já sabiam que eram gays.

Para eles, ser gay não é melhor nem pior do que não ser. Não estufam o peito e nem tentam se matar por causa disso. Eles se preocupam mais com a nota da última prova e com o horário determinado pela mãe para que voltem para casa do que com suas sexualidades. Como qualquer adolescente comum.

O pesquisador Ritch Savin-Williams termina seu livro sobre adolescentes gays com uma frase do estudante Andrew James, que escreveu um artigo intitulado In Search of Ordinary Joes (Em Busca dos Caras Comuns): “Revelar perfis de homossexuais que são pessoas comuns pode não ser fabuloso, nem ser a última moda, mas acho que deveria ser a próxima onda do movimento gay.”

Ele conclui dizendo que é errado afirmar que a adolescência gay é definida apenas por dor e sofrimento. Os que se comportam assim são uma minoria. A maioria é feliz, se acha normal e quer viver essa normalidade gay. Ou lés. Ou bi. Ou seja lá como essa sexualidade se apresenta.

2 comentários:

Unknown disse...

Olá, tudo bom?Eu gostaria do seu msn, queria conversar com você, estou numa situação bem complicada!

o meu email é
yago_go9645@hotmail.com

espero que possa me ajudar!
Abraços

Unknown disse...

Eu estou esperando seu contato em meu email, ok?Abraços, volto aqui no seu blog, assim que eu entrar na net!Abraços!