quinta-feira, 10 de junho de 2010

Sobre o Poder, a Militância e Nomes de Drinks...

  
PODER!

Estava refletindo ontem sobre a essência do Poder... Talvez por influência de minhas leituras de Hegel (por meio do - ótimo - livro "Eclipse da Moral", de Sílvio Rosa Filho - falarei dele em outro post). Na verdade, nem era tanto sobre a essência, mas de como nós, cidadãos, lidamos com ele.

O trecho do livro que me instigou a pensar nisso foi um que deixava a entender que a democracia (mais até, o próprio Estado) nunca se concretiza de fato, uma vez que temos, na sociedade, des citoyens actifs e des citoyens passifs.

A manifestação da vontade da tal "sociedade civil", portanto, essencial para a existência do Estado e da democracia, não seria, na prática, a manifestação da vontade de TODOS os cidadãos, mas só daqueles que são ativos na sociedade - o que chamamos de sociedade civil organizada.

Ou aqueles que minimamente votam e se preocupam com a Política.

Os que abrem mão de sua cidadania plena, os cidadãos passivos, que não votam, não se interessam por política, não tão nem aí pra militância etc, apenas assistem o jogo da arquibancada, na falsa esperança de que o resultado não afetará suas vidas - ledo engano, sabemos. É a disputa pelo Poder que está em jogo, poder sobre a vida de todos nós.

Aí, saindo ontem de mais uma reunião do Conselho Municipal de Saúde (do qual sou um dos diretores da Mesa e quase apanhei ontem, por querer seguir o regimento), vim pensando nisso... De que maneiras podemos lidar com o Poder?

Cheguei à conclusão que são 4:

1) TOMAR O PODER
O cidadão tem a oportunidade de ocupar o poder. Qualquer um de nós pode se candidatar e/ou ser indicado a cargos executivos e legislativos, prestar concursos e/ou ser indicado a cargos judiciários. Ou, mesmo sem cargo, militar por mudanças reais na sociedade, apoiando diferentes projetos políticos ou demandas de diversos setores da sociedade. 99% dos envolvidos na luta direta pela ocupação do Poder o fazem por meio dos partidos políticos - as únicas associações que oficialmente disputam o Poder, pelo voto. Ainda assim, apenas 10% da população é filiada a alguma legenda.

2) AJUDAR O PODER A GASTAR
Mesmo não estando no Poder, o cidadão pode se organizar e fechar convênios e parcerias com quem está. Hoje em dia, editais de convênios são uma nova forma de fazer política, mais participativa, mais próxima à população. Vejam os exemplos dos Pontos de Cultura: em vez do Ministério da Cultura decidir onde e em quê gastar sua verba, ele compartilha esse dinheiro com centenas de organizações culturais de todo o país - que apresentam projetos e, assim, compartilham um pouco do Poder de formular políticas culturais, com dinheiro público. Dada a enorme diversidade dos Pontos existentes, a política cultural resultante deste processo é muito mais rica do que a política que costumava sair de quatro paredes de um gabinete em Brasília... Ainda assim, são apenas alguns poucos milhares de Pontos em todo o Brasil. Se levarmos em consideração outros programas e convênios, vamos dizer (chutando alto!!) que 2 milhões de pessoas participem desse processo no país. É só 1% da população.

3) FISCALIZAR COMO GASTA O PODER
Ainda que não esteja no Poder e nem tenha convênio com o Poder, qualquer cidadão pode ainda participar de um dos inúmeros Conselhos existentes. Conselhos são entidades que assessoram o ramo executivo e geralmente sugerem, propõem e acompanham políticas públicas e, principalmente, fiscaliza os gastos do Poder - podendo até aprovar e ou rejeitar as contas. De todos os Conselhos, os mais antigos (e poderosos) são os de Saúde, exigidos por lei e que definem e aprovam TODA a política de Saúde e TODAS as contas, licitações e convênios. Como comunista, gosto muito dos Conselhos - um dia, quem sabe, não precisaremos mais de secretários nem de prefeitos: os conselhos podem tranquilamente admisnistrar uma cidade. Ainda assim, quantos conselhos existem? Se cada município brasileiro tivesse pelo menos um, seriam cinco mil e pouco. Cada um comumas 40 pessoas, envolveria por volta de 200 mil pessoas. 0,1% da população.

4) NÃO FAZER NADA
Apesar de todas essas formas de nos envolvermos com o Poder, há quem não esteja nem aí pra nada. Como o gato da foto, preferem ficar de barriga pro ar... No máximo reclamam um pouco, fazem algum barulho - mas nunca tomam uma atitude. Acham que tá bom assim ou, se não está, é desígnio de Deus (nossa maldita herança católica). Ou pior, a fuga está no hedonismo (vou meter, vou curtir, vou me drogar) ou no individualismo (se a farinha é pouca, meu pirão primeiro). São quase 90% da população.

Triste, né?

Foi quando me dei conta de que eu cisco em TODOS esses terreiros: Sou filiado a partido político (e participo ativamente da vida partidária - já fui candidato a vereador e sou hoje membro do comitê/diretório municipal do PCdoB), coordeno um projeto de Ponto de Cultura (a Escola Jovem LGBT) e sou Conselheiro Municipal de Saúde (já tendo sido Conselheiro Nacional de Juventude). Além de militar no Movimento LGBT, claro! Ufa!!

Será que foi por causa dessa militância toda que eu acabei virando nome de drink numa boate gay de São Paulo??

Não provei do drink ainda, mas pelo menos a minha consciência fica tranquila. E, lógico, fico feliz pelo reconhecimento. Sei que faço o que posso e o que não posso por este país, pela minha cidade e pela minha comunidade. Ainda assim, que bom seria se todo mundo reclamasse menos e participasse mais, né?

O Brasil precisa de mais citoyens actifs e menos citoyens passifs. Nada a ver com as passivas, bien entendu! =D

Beijo do Deco - e tintim! =]

Um comentário:

Ralf R só-a-consciência-no-ato-salva! disse...

PARABÉNS pelo texto!!
E pelo nome do drink - por que não? :D