Os cabos eleitorais do candidato do PSDB:
alguém duvida que essa gente vote no Serra?
Ontem eu saí pra tomar uma cerveja com um grande amigo meu. Nos conhecemos há 10 anos. E, como nem tudo é perfeito, ele é ferrenho eleitor do Serra.
O assunto da noite, claro, foram as eleições.
Uma coisa boa, que acho importante salientar, é que esse meu amigo (vamos chamá-lo de Luan - ele é a cara do Luan Santana) não se encaixa em nenhum dos grupos extremistas ilustrados acima, graças a Antínoo!, muito pelo contrário: ele é gay, extremamente inteligente, bem informado, recém-formado em uma das mais importantes universidades de SP, bom nível sócio-financeiro-educacional etc. Aproveitei a conversa pra saber por que diabos alguém vota no Serra e, mais importante, por que ele não vota na Dilma.
Começamos pelas semelhanças entre os candidatos. Concordamos que, qualquer um que ganhe, não será o fim do mundo. Nenhum dos dois, pessoalmente, é extremamente reacionário. Ambos apoiam a descriminalização do aborto e os direitos dos homossexuais (mesmo que ande circulando por aí várias informações ao contrário - muito do que se diz agora é campanha, da boca pra fora). Ambos são democratas e orbitam o espectro político ali pelo centro - sendo o Serra mais pra centro-direita e a Dilma mais pra centro-esquerda.
Aí veio o primeiro tensionamento. O Luan resistia muito em assumir que o Serra representa a direita e Dilma, a esquerda. Às vezes ele flertava com a ideia de que "não existe mais direita e esquerda no Brasil" (uma noção falsa, que favorece a direita), outras vezes assumia a diferencação, mas com outros nomes: Serra seria liberal (a favor da autoregulação do mercado, das privatizações), enquanto Dilma seria mais a favor da presença do Estado na Economia. O que dá no mesmo.
Mas percebi que, pra esse tipo de eleitor esclarecido do Serra, a noção de "esquerda" ainda é mais positiva que negativa, e a de "direita" ainda é mais negativa que positiva. Daí a resistência em se aliar imediatamente com a direita e deixar a Dilma ser de esquerda.
Essa resistência é reinforçada por uma certa demonização do PT. Ele falou de projeto de poder de 70 anos, de PRI, ditadura populista etc. E das alianças do PT com setores conservadores, religiosos etc.
Foi quando comecei a me dar conta de outro aspecto: apesar do Luan ser extremamente bem-educado e informado, sua informação era extremamente seletiva. Ele estava afiadíssimo em tudo de ruim que o PT havia feito nos últimos 8 anos - mas ignorava qualquer irregularidade do PSDB e suas lideranças. Já tinha "ouvido falar" em Paulo Preto, mas não sabia o que ele tinha feito. Não tinha conhecimento das declarações do Índio da Costa contra os direitos gays e nem sabia da prisão do candidato a deputado do PCC, antes das eleições. A propósito, ele não acredita que o governo de SP tenha favorecido o florescimento do PCC e acha que essa história de imprensa golpista é conto de fadas.
Ou seja, mesmo não pertencendo a grupos de extrema direita, ele era totalmente pautado por esse grupo. Parecia que eu estava sentado frente a frente com o Reinaldo Azevedo. E, como tal, não dá crédito à sociedade civil organizada ("é tudo aparelhada pelo PT") e menos ainda ao controle social ("é só pra inglês ver, pra acalmar os ânimos, mas não tem efetividade prática").
Em resumo: Por que não votar na Dilma? Basicamente por medo do PT. Medo do PT querer ficar anos e anos no poder ("é preciso haver alternância!"), medo da relação do PT com as massas ("o PT acha que deve guiar as massas, como prega o marxismo"), medo da Dilma "não segurar o PT" (no fortalecimento do Estado, no PNDH3 etc).
Tadinho do "Luan"... Tão bonitinho e tão perdido!
Bom, eu precisava contra-argumentar. Primeiro ressaltei que essa visão do PT como a raiz de todos os males é uma demonização orquestrada pela mídia. O PT não é melhor nem pior que nenhum outro partido e sofre o preconceito de classe de ainda ser o principal representante da classe trabalhadora no país. Aliás, essa questão de classe permeou toda a conversa e, ao contrário do que muitos querem fazer parecer, está mais viva do que nunca.
Segundo, sobre o projeto de poder do PT. O PT não quer ficar 10, 20, 70 anos no poder. Quer ficar 100, 200. Assim como TODOS os partidos, ora bolas. Afinal, não são eles as únicas instituições constitucionalmente habilitadas a disputar o disputar o poder? E qual o propósito dessa disputa senão o de permanecer no poder o maior tempo possível? Sobre alternância de poder: Hello-o! em que estado vc vive mesmo, Luan? São Paulo? Há quantos 20 anos o PSDB está no poder mesmo?
Sobre o PT e as massas: a partir do momento que o Estado começa a aceitar o controle social, ou seja, que a sociedade civil passe a fiscalizar e pressionar o Estado por mudanças ou pela manutenção de suas conquistas, esse espaço torna-se também um espaço de poder. E um espaço de poder que, se não for ocupado por um lado será, ireemediavelmente, pelo outro. A direita no Brasil (ainda que resita o título de direita) é recalcada porque nunca teve o diálogo com os movimentos sociais que esquerda sempre teve. A direita nunca teve militância, povo de verdade na rua (veja que triste é uma passeata pró-Serra - alguém ali não era pago? - e olha que o vídeo é da Folha...). Que as massas se identifiquem com Dilma e o PT é natural, pois o partido sempre esteve com eles, como o PCdoB e outros. Aliás, quem acha que pode "liderar as massas" e se coloca acima delas, numa arrogante superioridade, é justamente o PSDB...
E, finalmente, sobre "Dilma não segurar o PT", parte disso tem a ver com a tal demonização, parte tem a ver com a pauta da direita mais extrema. essa centro-direita moderada, à qual pertence o Luan, não sabe exatamente o que o pode acontecer de fato caso a "Dilma não segure o PT". É só uma sensação vaga de medo. Conhece pouco do PNDH3, por exemplo, e só sabe rerpoduzir o que sai na mídia mais oposicionista. Acha que se Dilma ganhar, o Brasil vira uma Cuba ou uma China.
Minha resposta a isso é uma só: quero mais é que não segure mesmo. Lula não fez nem metade do que poderia ter feito justamente porque segurou. É por saber que Dilma não vai segurar que a extrema direita está em pânico - diferentemente da centro-direita moderada, a extrema sabe muito bem o que tem a perder com a chegada definitiva do povo no poder: sua hegemonia.
E é por isso que o povo ali de cima - milicos, neo-nazistas, TFPistas, integralistas, religiosos fundamentalistas, o PiG - vota tudo no Serra. E você, Luan? Vai realmente se juntar a eles?
3 comentários:
Mas fica muito difícil acreditar em sua argumentação quando a Dilma ontem "beijou a cruz" dos evangélicos entregando-se aos seus interesses.
No acordo feito ontem ela não encaminhará projetos e pior ainda, vetará os que forem aprovados no legislativo.
Já Serra se posicionou a favor da união entre pessoas do mesmo sexo.
Abs,
Cléber
fontes:
http://moglobo.globo.com/integra.asp?txtUrl=/pais/eleicoes2010/mat/2010/10/13/dilma-escrevera-manifesto-se-posicionando-contra-descriminalizacao-do-aborto-o-casamento-homossexual-922772173.asp
http://www1.folha.uol.com.br/poder/814522-serra-diz-que-e-a-favor-da-uniao-civil-homossexual-mas-casamento-e-com-as-igrejas.shtml
Vamos esperar esse manifesto sair pra ver - com certeza ela não vai prometer nada contra os gays nem contra o PLC 122. Lembre-se que grande parte da mídia é contra a Dilma...
Lendo a matéria com atenção, vc verá que o que a dilma prometeu vetar foi algo que NÃO EXISTE no PLC 122, mas que muitos pastores dizem que existe, que é a censura às igrejas. Entende? Os pastores falam besteira, dizem que a lei contém absurdos, e a Dilma, claro, diz que se esses absurdos estiverem no projeto, vai vetar. Mas não estão. Fim da história.
Deco, meu nome é Graça, estou necessitando de material sobre transfobia para apresentação na faculdade, tenho tido dificuldades para encontrar bons conteudos. Como vc é educador e jornalista, acredito que tenha maior acesso a esse material. Se puder ajudar, seria interessante até para que as pessoas tenham um maior conhecimento e respeito. Agradeço. Meu email é sicrano@msn.com
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